A Cicloviagem pela Estrada Real

A logística

Essa viagem poderia ser feita nos moldes do cicloturismo totalmente autônomo, onde o viajante leva na bicicleta em alforges tudo ou quase tudo o que precisará durante o trajeto, incluindo barraca e equipamento para cozinhar. Porém, por se tratar de um grupo grande e heterogêneo, que tem uma desafiadora média de 67 quilômetros diários em estradas de terra montanhosas durante nove dias consecutivos, optou-se por viajar com as bicicletas "leves" e dormir em pousadas. Um carro levará as bagagens dos participantes de uma cidade para outra a cada dia. Não será, porém, um carro de apoio durante a jornada dos ciclistas: ele passará por caminhos diferentes dos usados pelas bicicletas, privilegiando estradas asfaltadas. Os cicloviajantes portarão durante o dia todo o equipamento necessário às manutenções mais comuns em uma pedalada, como reparo de pneus furados e de correntes partidas, alé m de equipamentos de segurança (capacete, luvas, farol para eventuais trechos noturnos), água e lanche.

O trajeto

A Estrada Real tem três eixos: o Caminho Velho (Ouro Preto-Paraty), o Caminho Novo (Ouro Preto-Rio de Janeiro) e o Caminho dos Diamantes (Ouro Preto-Diamantina). O Caminho Velho foi escolhido em votação pela maioria dos participantes por ser o mais antigo, passar em três estados e terminar em Paraty, com sua sedutora paisagem da arquitetura colonial em frente ao mar. Tem, porém, trechos asfaltados que vários relatos descrevem como hostis ao trânsito de bicicletas - não têm acostamento e têm intenso tráfego de caminhões. Procurou-se, na definição do itinerário, encontrar alternativas para esses trechos, substituindo-os por estradas de terra. Foi sacrificada a obediência integral ao que é considerado o traçado oficial da Estrada Real, mas ganhou-se em segurança e tranqüilidade para pedalar, sem acréscimo na quilometragem total. As cidades de pernoite foram escolhid as de forma a conjugar distâncias diárias balanceadas com a disponibilidade de pousadas capazes de hospedar todo o grupo. As reservas foram feitas antecipadamente, e onde foi possível, por uma questão prática, a hospedagem incluiu o jantar.

Os subgrupos

Para facilitar a organização, os 26 ciclistas foram distribuídos em cinco grupos com cinco pessoas cada, mais um coordenador geral e um guia.
Um membro do Mountain Bike BH viajou de carro por parte do trajeto e conhece alguns trechos pulverizados, e assim ficou incumbido de ser o guia da viagem. Cada grupo tem dois coordenadores, que reportarão o que julgarem necessário ao coordenador geral. Os membros de um grupo têm compromisso de apoio mútuo. Devem pedalar juntos todo o tempo e prestarão socorro a quem, no grupo, necessitar - seja em caso de acidentes, seja em manutenções emergenciais das bicicletas. A estratégia foi adotada para que as pessoas-referência de cada um sejam poucas e constantes, para que todos sejam igualmente assistidos, para que ninguém se "desgarre", enfim, para criar pequenas redes de solidariedade, distribuir responsabilidades e remediar com eficiência os contratempos. O coordenador geral, o guia e um coordenador em cada grupo portarão um rádio comunicador, para uma troca de informações ágil. Dependendo da disponibilidade do sinal, o carro de transporte de bagagens poderá ser acionado por celular, caso seja necessário algum resgate emergencial.

A preparação

Os ciclistas prepararam-se física e psicologicamente para a viagem durante todo o primeiro semestre de 2006. Fizeram passeios em grupo com quilometragens extensas, procurando reproduzir condições do percurso. Em algumas pedaladas, dividiram-se nos mesmos grupos da viagem, simulando situações de ajuda mútua. Trocaram inúmeras mensagens eletrônicas sobre preparação de bagagens, equipamentos, testes físicos, vestuário. Substituíram peças de bicicletas em revisões. Pesquisaram relatos de cicloviagens anteriores. Procuraram patrocínios e apoios. Tomaram decisões acerca da própria configuração da viagem: o que ganha aqui o ar de um planejamento pronto e acabado foi, na verdade, construído coletivamente, meses a fio. Muitas pendências perduraram até as vésperas da partida.

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